Às vezes, o final feliz é só seguir em frente.
- Susana Meneses
- 24 de jan. de 2020
- 3 min de leitura

Hoje deu aquela vontade imensa de voltar a escrever. Há cerca de um ano e meio que não dava notícias por aqui. Desliguei-me! Precisava de fazer um reset à mente. A dor consumia-me há três anos. E hoje, sem motivo aparente, fiz um balanço do tempo que entretanto passou e esta ausência fez todo o sentido.
Muitas pessoas ao longo deste ano e "picos" me interrogaram do porquê de ter deixado de escrever e de partilhar o meu dia-a-dia aqui entre consultas, exames, medicação, mezinhas e tantas outras coisas que, pensando bem nelas, podem até parecer ridículas.
A verdade é que o objetivo era um só: chegar até alguém que me ajudasse a pôr fim a este inferno de viver condenada à dor.
Recebi imensas mensagens de pessoas superqueridas de todo o país e até do outro lado do Atlântico. O mundo é mesmo uma aldeia! Nunca imaginei eu chegar a tanta gente e receber tantas partilhas de pessoas que lidam com dor crónica.
Pode parecer estúpido ou até lamechas o que vou dizer. Não tenho bem um sentimento que defina isto, mas é muito gratificante sentir esse retorno. É como se, de certa forma, me reconfortasse o facto de saber que outras pessoas lidam com a dor diariamente. Obviamente, que não me deixa feliz o sofrimento dos outros, entenda-se! Refiro-me a uma perspetiva de “ok, não estou sozinha”, “há tantas outras pessoas que falam a mesma língua que eu”, “que são também julgadas pelos outros”, “que já as rotularam de malucas e de histéricas”. Basicamente, comentários que transbordam carinho e preocupação.
Bora lá marcar a diferença?
Diria que estas partilhas contribuíram para que reestruturasse a minha forma de pensar e agir.
Foi um ano de muitas mudanças. Retomei a minha atividade profissional a passinhos bem medrosos. Passei pelo desafio diário de superar todos os dias a dor e de mostrar cara de heroína e altamente bem disposta, quando só me apetecia mandar-me para o chão e chorar. Porque menina bonita não tem dor. Menina que se arranja e que não passa a vida em lamentos está fresca e fofa. Ouvir dos doentes: “Ai filha, eu também na tua idade estava aí toda para as curvas, não me doía nada". Vale a pena opinar sobre isto? E tantos outros como: “Deixa-te chegar à minha idade e vais ver o reumático a atacar”.
ADOOOOORO!!! E andei eu este tempo todo a pensar que o reumático era um Alien que só atacava velhotes. Só que não! O senhor reumático atacou-me tinha eu 27 anos, mas como sofre da vista, viu um 72 e TAU! Bora lá desconchavar-lhe a anca e a coluna que já se faz tarde!
Perdoem-me as parvoíces, até porque se não levasse este assunto desta forma, a esta hora ou estaria internada em psiquiatria ou estaria a fazer xixi para os pés, dependente de terceiros para tudo.
Levanta-se aqui uma questão curiosa, porque a forma como lido diariamente com a dor, é impercetível aos olhares alheios. Até às pessoas que me são próximas. Eu não faço questão de manifestar-me. A dor está cá. Eu já, naturalmente, tenho um limiar de dor que consigo suportar.
Aprendi a conhecer os sinais que o meu corpo me dá e qual a sua resposta quando é submetido a determinados estímulos, que para uma pessoa saudável são inofensivos e que para mim fazem a diferença entre ser incapaz de me colocar de pé.
A procura constante pela cura ou por uma melhor qualidade de vida mantem-se. Não desisti de encontrar a solução mas sobretudo não desisti de mim. Se é para viver com dor, é obrigatório dar o protagonismo que ela quer? Às vezes ela ganha e lá sou obrigada a dar-lhe a atenção que precisa. Para quem me questiona muitas vezes e me vê sempre linda e maravilhosa nas redes sociais e com alguma malícia (vá, estou a ser amorosa) deixa verter um pouquinho de veneno, a minha resposta é: eu não preciso nem quero o rótulo de coitadinha, quero apenas ter qualidade de vida e ser feliz assumindo esta condição.
Adorava saber que desse lado, consegui desbloquear o comodismo que é depender dos outros para tudo só porque temos dor.
E agora falo como enfermeira: cada caso é um caso, mas uma mente sã é o ponto de partida para o fim ou para o atenuar da nossa incapacidade. Não desistam ao primeiro obstáculo e reinventem-se.
Esta corrida já tem quase quatro anos e ninguém me disse quantos quilómetros ainda faltam para chegar à meta. Por isso, o conselho é: se estiveres cansado, pára, bebe água, alonga, alimenta-te, vai fazer um xixi e quando recuperares continua! Podes ter que abrandar o ritmo, mas talvez assim consigas estar mais atento ao caminho.
Até breve :)
Enfermeira determinda.Deve haver muito poucas neste universo.Que a vida lhe traga sempre alegrias.b
Para além de ser linda escreve bem!
Orgulho-me muito em dizer que conheço pessoalmente esta menina que é uma força da natureza, uma guerreira. Força Su! Sempre ao teu lado 😊