A perda de peso provocará dor?
- Susana Meneses
- 14 de fev. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de abr. de 2018

Durante quatro meses, a eletroacupuntura foi a única forma de controlar a dor. Viajei semanalmente entre Lisboa e o Porto dezenas de vezes, literalmente atrás do único médico que tinha até então conseguido aliviar-me a dor. A sua clínica encontra-se no Porto, mas como ele dava consultas em Lisboa uma vez por semana, lá andava eu entre essas duas cidades. Chegava a fazer cinco tratamentos semanais. Viagens penosas e intermináveis, essas!
Como consequência de uma vida sedentária, sem atividade profissional e sem a prática de atividade física, em cerca de três meses perdi seis quilogramas. O ponteiro da balança chegou aos 53kg para uma altura de 1,75m. Eu diria que seria o sonho para uma boa parte das pessoas, perder peso sem fazer exercício físico. A minha atividade diária resumia-se a estar fechada dentro de quatro paredes, deitada no chão porque não tolerava a dor que o afundar no sofá ou no colchão da cama me provocavam. Ocupava-me a ver televisão, a ler sobre o meu hipotético problema de saúde, a comer e em caminhadas desafiantes entre a sala e a casa de banho. Passava sozinha a maior parte do dia. Imaginem isso, dia após dia durante ano e meio, com o acréscimo de dor não controlada.
Essa perda de peso condicionou em muito a minha recuperação e, como consequência da atrofia muscular do lado esquerdo do meu corpo, desencadeou-se um desnivelamento da bacia (como é possível ver na imagem que se segue), pela constante posição viciosa e defensiva que fui adquirindo durante meses.

A perda de peso foi de tal forma evidente que comecei a achar, das poucas vezes que me conseguia olhar ao espelho, que algo de errado se passava. Apercebi-me de uma assimetria na virilha: um “altinho” do lado esquerdo que aumentava de tamanho quando tossia ou quando fazia mais pressão na barriga.
Já só pensava que estava a ficar paranóica com esta sequência de acontecimentos sem término, até que comentei com o meu namorado, enfermeiro também, que de uma hérnia se podia tratar como consequência da atrofia muscular que havia sofrido e da fragilidade da parede abdominal.
E o diagnóstico uma semana depois foi confirmado após observação por Cirurgia Geral. Tinha uma hérnia crural esquerda com indicação cirúrgica e ao fim de um mês fui submetida a uma herniplastia por uma equipa fantástica no bloco operatório onde trabalho.
Foi estranho e um pouco constrangedor ser doente no serviço onde trabalho. Serão capazes de imaginar a exposição a que fui submetida. Pelo menos quem já foi submetido a uma intervenção cirúrgica saberá do que falo. Mas isso seria o menor dos meus problemas. Só tenho a agradecer a todos os intervenientes, a forma como fui tratada e acarinhada. Todos tinham conhecimento que estava a atravessar uma fase menos risonha.
O pós-operatório, naturalmente, acabou por atrasar a continuação do tratamento do meu problema músculo-esquelético. Estava proibida de fazer esforços/cargas. Avançar com reforço muscular só seria possível ao fim de um mês da cirurgia. Uma vez mais, continuei com posturas defensivas, compensações sobre compensações musculares, desta vez porque tinha uma ferida cirúrgica na virilha esquerda. E o cenário repetia-se! Dor ao estar de pé, ao tossir, ao sentar, dor na ida ao WC, a tomar banho, enfim… Dor!
Nessa altura, foi-me sugerido pela Cirurgia Geral ser observada por Reumatologia, e assim fiz. Tanta dor, podia ser justificada por alguma doença do foro reumatológico e/ou auto-imune. Realizei uma cintigrafía óssea, análises para despiste de doenças auto-imunes como artrite reumatóide, lúpus, espondilite anquilosante, entre outras e no fim de contas, as notícias foram boas. Tudo negativo, sem alterações.
Era suposto ficar contente, mas eu já só queria dar um nome ao meu problema de saúde. Pode parecer bizarro isto, mas o desespero chegou a esse ponto. Qualquer diagnóstico seria melhor do que continuar sem saber o que tinha.
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